Golden morning in Switzerland - Photograph by fabiozingg

É muito comum acharmos que existe um "lugar ideal" para a escrita. Imaginamos que os escritores vivem em casinhas isoladas no meio do bosque, ou numa montanha, onde possuem as condições perfeitas para deixarem as ideias fluírem para o papel. Isso seria ótimo se houvesse bosques e casinhas isoladas suficientes para todos os escritores do planeta. Obviamente, não é bem assim.

Lembro de quando estava escrevendo minha dissertação e do quanto procrastinava, esperando todas as condições ideais que jamais existiriam. Não há ordem na escrita e tudo é caos. Minha cabeça, na época, parecia as luzinhas de Natal emaranhadas dentro da caixa e, por mais que eu tentasse desembaraça-las, mais os nós ficavam impossíveis. Até hoje, mais de um ano depois de finalizada e defendida, não consigo colocar todas as minhas ideias num fio único, com as luzes acesas e brilhando.

Outra coisa que me lembro bem eram as tentativas, fracassos e sucessos de escrever os capítulos. Cada capítulo escrito era uma vitória, mas depois vinham as correções da orientadora e muitas vezes eu senti que tinha perdido o controle sobre meu próprio texto. Os conceitos não podiam estar mal escritos, a escolha das palavras era um processo cuidadoso. Tantas coisas foram reescritas que, se eu pegar a cópia encadernada hoje, muita coisa eu nem lembro se foram as minhas próprias palavras.

Já perto do fim da escrita da dissertação, lembro de chorar muito. Escrevia um pouco, tinha um surto, parava, me acalmava, voltava a escrever, tinha outro surto, e assim foi o final do processo. A escrita me fazia sentir incapaz, burra, insegura, me questionando o tempo todo se era mesmo para eu ter encarado aquele desafio. "Mas era tão mais legal quando eu só tinha aula e o máximo de escrita eram minhas anotações, não podia ser só isso mesmo?" - pensava eu sempre.

Assim, nesses quase dois anos (eu pedi extensão do prazo, pois não é humanamente possível trabalhar full-time e fazer um mestrado no tempo normal) eu passei pelo momento de escrita mais intenso da minha vida até agora. E isso me faz pensar se é por essa razão que todo mês de novembro eu tento o desafio de escrever cinquenta mil palavras. Será que eu gosto de sofrer? Ou eu gosto do desafio? Ou eu queria mesmo ser escritora? Ou eu simplesmente tenho coisas a dizer que ninguém quer ouvir? Talvez isso seja um assunto para levar pra terapia. Por enquanto, vou iniciando meu desafio hoje, dia 01 de novembro de 2021, com mais ou menos 400 palavras escritas.

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