(depois eu subo uma imagem para este post, pois não encontrei nenhuma ainda)

Ontem tentava explicar o desafio de escrita ao meu consagrado - ele já conhecia, mas não lembrava muito bem. Ele observou que ano passado eu estava escrevendo a história de Poliana e seus cem bebês - eu uso o computador dele para jogar The Sims, então ele sabia do negócio todo. Porém, um questionamento surgiu: "e sobre o que você vai escrever este ano?". Bom, eu nem soube responder. O único plano que tinha feito era mesmo coletar umas imagens bonitas e esperar que a inspiração batesse e, me conhecendo, um plano fadado ao fracasso, já que inspiração pode ou não ocorrer.

Foi então que ele disse: "por que você não escreve um diário da pandemia?". Ao que fui obrigada a lembrá-lo que meu diário da pandemia já tinha sido escrito no meu caderno pessoal, mas nada que eu tivesse coragem de copiar aqui, pois era coisa bem besta tipo "décimo dia de isolamento e hoje comemos bolo velho com queijo e ouvimos o presidente dizer mais uma barbaridade". Além disso, eu provavelmente seria condenada no tribunal da internet, já que fui uma das pessoas que gostou de ficar em casa. Sim, eu gostei do home office, da aula online, ouso dizer que gosto de usar máscara, e ficava aguardando ansiosamente as notícias sobre cada nova descoberta a respeito do vírus.

Talvez eu possa explicar melhor.

Eu tenho a impressão de que me saio bem em situações inesperadas. Descobri isso aos 11 anos de idade quando o prédio em frente ao meu começou a pegar fogo no último andar e eu, quando vi, calmamente liguei para os meus pais para saber o que fazer. Estava em casa com meu irmão 3 anos mais novo que eu e eles tinham ido à padaria. Os dois voltaram correndo para casa e eu estava já com meu irmão no salão de festas do prédio reunida com outros adultos conhecidos e de lá fomos para a casa de uns conhecidos em segurança.

Não lembro de ter sentido pânico, mas tinha uma noção estranha de estar vivendo algo memorável. Olhava ao redor para não perder um segundo: vi as madeiras caindo em chamas lá do alto em cima do nosso prédio; vi os repórteres chegando para registrar o acontecido; vi meu pai fugindo da entrevista (ele era o síndico) e colocando um vizinho mais extrovertido para falar no lugar dele. Depois, quando chegamos no apartamento dos conhecidos, lembro de ter chamado as outras crianças para jogar algum jogo e, assim, todos se distraíram um pouco.

No dia seguinte, na escola, narrei tudo em detalhes para meus colegas. Perguntei se eles tinham visto a notícia no jornal do meio-dia e, pelas reações deles, achei que deram pouca importância à minha aventura, mas também eu posso ter contado tudo de forma pouco atrativa. Depois de um tempo, meu pai - que tinha subido com um extintor de incêndio para o topo do nosso prédio junto com outros adultos enquanto os bombeiros não chegavam - contou que um dos porteiros, na correria pelas escadas, acabou ficando entalado na lata do lixo por alguns minutos até ser encontrado. Foi o momento cômico da confusão toda.

Enfim, tudo isso para dizer que eu realmente fiquei calma neste dia. Lembro das outras crianças chorando, até as mais velhas que eu. Algumas mães bem descompensadas e pais tentando bancar os heróis. Eu, porém, de alguma forma sabia que não ajudaria se eu me desesperasse e apenas fiquei na minha, observando tudo. E acho que foi assim que agi desde o início da pandemia.

O desespero não iria ajudar muito e eu sabia que estávamos - ainda estamos - vivendo momentos históricos. Logo, minha atitude foi apenas seguir as orientações dos especialistas e aguardar. Aproveitei, então, para tirar o melhor disso. E ficar em casa foi a melhor coisa para mim. Fiquei com meus cachorros, podíamos brincar no quintal. Só via meus alunos e colegas de trabalho pelo computador e, quando desligava, já estava em casa com minha família. Nas festas de fim de ano, tivemos "desculpa" para ficar em casa e não teve confusão sobre na casa de qual sogra iríamos passar a noite de Natal e nos entocamos com os cachorros para protegê-los dos fogos de Ano Novo. Também no meu aniversário pude ser respeitada quando disse que não queria fazer nada. De toda forma, eu já não gostava de aglomeração e não senti nenhuma falta.

Apesar de ter achado esses pontos positivos para mim nessa pandemia, entendo perfeitamente sua gravidade e sofri a cada novo recorde de mortes e de casos. Estou muito feliz por estar vacinada com as duas doses, por estar viva - apesar de você-sabe-quem e sua turma, né?! - e por não ter perdido nenhuma pessoa muito próxima para a doença. Também acompanhei a CPI da covid como se fosse um "big brother" e realmente espero que os responsáveis pelo fundo do poço onde chegamos sejam punidos.

E, sinto dizer e espero que esteja errada, mas estou pronta para a próxima.

2 Comentários

  1. Eu ao contrário de você não lido muito bem com situações inesperadas :(
    Sou extremamente aniosa então fica complicada lidar bem com isso...
    A pandemia também teve o lado bom pra mim, mesmo com tantas coisas ruins acontecendo no mundo, alguns pontos foram positivos, mas fico muito mais feliz em saber que tudo isso já está acabando. Desejo que as coisas melhorem!

    https://www.heyimwiththeband.com.br/

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  2. Essa pandemia deixou muitas histórias e lições. Que ótimo que estamos passando por ela, não digo ilesos, mas estamos passando.

    Boa semana!


    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia

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