Amanda foi minha melhor amiga quando tínhamos 8 anos. Sentávamos juntas na escola, brincávamos o tempo todo, eu ligava para a casa dela e ela para a minha, era bom ter uma amiga como ela. No final do ano, um belo dia, do mais absoluto nada, Amanda me chamou de "feia chata e burra" (ou algum xingamento equivalente, não lembro bem), disse que não queria ser mais minha amiga e, no ano seguinte, tinha mudado de escola. Eu não entendi nada, mas segui minha vida, fiz outras amizades, tive outras brigas e, anos depois, descobri que eu e Amanda simplesmente não pertencíamos ao mesmo círculo social. Eu era uma menina de classe média (ou pobre premium), estudando numa escola de milionários e só me dei conta disso anos depois. Creio que Amanda também não sabia disso, mas a mãe dela sabia e achou melhor nos afastar. Esse foi o primeiro rompimento de amizades que me marcou e, observando tudo agora, uns 30 anos depois, vejo como eu nunca entendi muito bem as relações sociais. Vou tentar explicar.

Eu sempre oscilei entre momentos de sociabilidade e introspecção. Nunca tive dificuldades para fazer amizades, conhecer outras pessoas. Entretanto, por ter momentos de introspecção e vontade (necessidade?) de ficar só, eu acabava perdendo essas amizades, ou deixando de aprofundá-las. Posso dizer que umas 5 pessoas se mantiveram comigo durante anos e elas conseguem compreender isso a meu respeito, sabem que eu vou voltar e podem contar comigo. Isso, porém, é algo que funciona para mim. Outras pessoas precisam das amizades sempre presentes e isso eu simplesmente não consigo oferecer. Posso fazer um esforço? Claro! Mas é preciso haver esforço das duas partes.

Assim, por muitos anos eu achei que havia algo errado comigo. Já me lancei no abismo de não achar que eu fosse "friend material" e era melhor ficar sozinha mesmo. E tudo isso porque estava pensando apenas na Amanda, ou em Vivi-você-não-foi-convidada-pra-minha-festa, ou em Cecília com sua piscina na varanda e pai dono de sei lá o quê cuja mãe, assim que bateu os olhos em mim, já sabia que eu não poderia mais frequentar aquela casa. Agora, faço o exercício contrário, lembrar das pessoas que ficaram e gostam de mim e eu gosto delas porque são essas que importam e eu não quero perder na minha vida. Elas sabem que eu sou feito essa orquídea da foto, só floresço algumas vezes no ano e está tudo bem.

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