A vida acontece de formas misteriosas demais e nunca sabemos como uma decisão importante mudará os rumos de tudo. Em janeiro, parece que pausei e fui vivendo o mesmo dia por vários dias até a última semana quando caí de paraquedas num emprego que sempre sonhei. Ia dar aula no colégio onde estudei a vida toda. Onde fiz amizades eternas. Onde conheci o menino que está ao meu lado até hoje.

Comecei no dia primeiro de fevereiro e dei minha última aula lá no dia nove de fevereiro. Pouco a pouco o sonho foi desmoronando e vi que não era para mim. Nesses dias, chegava em casa chorando, ia dormir chorando, acordava chorando, dirigia chorando, almoçava chorando. Algo estava errado. Logo, percebi que não conseguiria ficar. Minha família ficou preocupada e conversamos bastante. As colegas de trabalho foram extremamente gentis e notaram a mudança em meu semblante do primeiro para os dias que se seguiram. Elas me alertaram: não melhora. Mas elas aguentavam, pois tinham filhos, boletos, e todas essas coisas, assim como eu tenho. Resolvi sair, depois resolvi ficar, depois resolvi sair.

E assim assinei os papéis na sexta-feira, dia 05. O choro secou imediatamente, até hoje não derramei mais nenhuma lágrima. No meu outro emprego, consegui algumas turmas de volta e vou conseguir viver este semestre, pagando boletos e tendo minha paz.

Eu sou professora e tenho orgulho disso. E meu sonho é que um dia a educação deixe de ser privilégio e passe a ser um direito de todos. Educação não pode ser paga. Aprendizado não é produto de compra e venda. Professores não deveriam ser cobrados para agradar os pais e alunos, pois eles estão pagando. Ensino não é agrado. Aprendizagem se mede com instrumentos de avaliação empiricamente comprovados. 

Meu sonho deixou de ser trabalhar numa escola específica. Agora, meu desejo maior é que todos tenham esta consciência de que educação é direito universal. E vou espalhar esta ideia para que mais pessoas possam ter acesso a isto.

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