Quote of Virginia Woolf saying "it is a thousand pities never to say what one feels"

Hoje eu vou contar uma história. Uma história de amor.

Férias de janeiro de uma época em que a MTV ainda fazia sucesso com os jovens brasileiros. Um jovenzinho pedante que tinha uma banda de rock junto com outros jovenzinhos não-pedantes, resolveu convidar sua crush e duas amigas para ver o ensaio deles. Ele vinha tentando conquistar sua crush há anos, mas ela não dava bola - não fazia seu tipo, além dele obviamente ser pedante. Mesmo assim, ele insistia e a ocasião era perfeita para mostrar suas habilidades de rock star conhecedor das melhores notas musicais e ainda ele sendo amigo do professor de Física, que era cantor da banda.

Estavam no micro estúdio apertados entre os instrumentos e fios e amplificadores e pedais: o jovem pedante, guitarrista; o outro guitarrista; o baterista, conhecido como o jovem Bilbo; o baixista; e o professor de Física. Sentadas em bancos de plástico encostadas na parede do estúdio estavam a crush e duas amigas. De lá, podiam observar todos os meninos da banda e o professor de Física que era um gatinho, mas nenhuma delas realmente esperava formar um casal com nenhum daqueles meninos. Pedante já estava na friendzone há anos e todo mundo estava ali somente para curtir a música e, como dizem os americanos, hang out.

Naquela época, nenhum daqueles jovens era considerado "popular" pelos outros jovens do colégio onde estudavam. Todo mundo ali era nerd, gostava de MTV, escutava metal e rock doido no discman, jogava videogame e lia Senhor dos Anéis, inclusive o professor de Física e a crush do pedante - só as outras duas meninas eram um pouco menos nerds que isso, se é que existe uma escala nerd.

A banda estava arrasando no ensaio, tocaram Metallica, Iron Maiden, Green Day, Red Hot Chili Peppers, muito habilidosos. Numa das músicas de Iron Maiden, o outro guitarrista fez um solo impressionante, parecia que ele sabia muito o que estava fazendo, se ajoelhou para trocar de efeitos nos pedais e tudo. Crush do pedante ficou olhando, admirada. Ela gostava muito de música e achou aquele solo impressionante. Porém, quando a música terminou, o jovem pedante olhou para o outro guitarrista e disse:

- Eita! Improvisou demais, né?! - num tom de deboche, de quem sabia todas as notas, mas nunca, jamais tocaria com o mesmo sentimento com que o outro guitarrista tocou. Tímido, o outro guitarrista deu uma risadinha e seguiu a vida. Crush do pedante, horrorizada, comentou com as amigas:

- Mas foi tão bom o solo dele... - amigas concordaram e o ensaio seguiu. 

Depois do ensaio, todos os jovens foram para uma pizzaria. Crush do pedante ficou sentada ao lado do outro guitarrista. Parecia que ela estava congelada. Não conseguia olhar para ele, o pescoço meio travado, mas não de torcicolo, era uma outra coisa. Apesar de se conhecerem há anos, algo tinha mudado.

As aulas voltaram e o grupo de amigos voltou a se encontrar no colégio. Um outro nerd entrou na banda para cantar no lugar no professor de Física e ele começou a namorar uma das amigas. Um tempo depois, o baixista Bilbo revelou-se também apaixonado pela crush do pedante. Ela, como já sabemos, só tinha olhos para o outro guitarrista, mas o jovem era extremamente misterioso. Ele não se abria para qualquer pessoa, logo, ninguém realmente sabia se ele gostava de alguém ou se estava namorando até.

Crush do pedante, apesar de ser bastante tímida, não tinha problema algum em ir atrás do que ela queria - ou de quem. Começou a encontrar momentos em que podiam conversar na saída do colégio. Descobriram muitas coisas em comum. Gostavam das mesmas bandas de rock doido, de Senhor dos Anéis, de videogame, de filmes, séries, mas nem tudo. Ele gostava de magic e ela não entendia muito bem aquelas cartas. Ela gostava de ler romances e ele só lia aventuras. Ele via muitos filmes, mas ela preferia ver clipes na MTV. Todas as conversas entre eles fluía muito bem, até o silêncio não tinha problema algum, desde que estivessem na presença um do outro. Assim, sem fazer muito alarde, começaram a namorar. Um amor puro, leve, tranquilo, do jeito deles.

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