De vez em quando chego neste blog para falar da minha desesperança com a humanidade e como eu acho que vamos todos de dinossauros em breve. Raramente consigo pensar se há algo que possamos fazer, pois as respostas me parecem sempre mais coletivas do que individuais. Eu, sozinha, posso plantar umas árvores no meu jardim e fazer alguma doação para instituições ou até doar meu tempo com algum serviço comunitário. Entretanto, se obrigarem as pessoas que desmatam a replantar o dobro da área desmatada como punição, com certeza o benefício seria maior e mais rápido do que as minhas atitudes (e não estou falando de importância, e sim de impacto).
No filme La Haîne (1995), o narrador introduz a história de três jovens da periferia parisiense da seguinte forma:
C'est l'histoire d'une société qui tombe et qui, au fur et à mesure de sa chute, se répète pour se rassurer : "Jusqu'ici tout va bien, jusqu'ici tout va bien, jusqu'ici tout va bien". Mais ce qui compte c'est pas la chute. C'est l'atterrissage.
Uma pessoa vai caindo de um prédio de cinquenta andares e, a cada a
ndar que passa, ela repete para si mesma "até aqui, está tudo bem" (jusqu'ici tout va bien), mas o que realmente conta não é a queda, é a aterrissagem. Durante o filme, sabemos que uma tragédia está prestes a acontecer. Três jovens revoltados com uma injustiça policial cometida contra um amigo encontram uma arma. A tensão vai crescendo o filme inteiro, até a cena final, ou seja, a aterrissagem.
Essa metáfora também serve para tantas questões que a humanidade vive. As mudanças climáticas, todas as guerras, o terrorismo econômico do presidente laranjão, as perseguições contra imigrantes em diversos países, a hegemonia do agro, a destruição do meio ambiente tendo como justificativa o "desenvolvimento", eu poderia passar horas listando horrores aqui. Todo mundo sabe de tudo isso. E continuamos dizendo "jusqui'ici tout va bien", até um dia quando finalmente cairemos no chão. Uma queda coletiva, pois todos nós somos responsáveis.
E o que podemos fazer? Sinceramente, eu não sei. Essa semana eu pensei em como Sebastião Salgado conseguiu reflorestar a região do Rio Doce e acho que é um bom exemplo de algo que podemos fazer ou, pelo menos, divulgar. Para mim, é importante começar a mudar essa noção de "desenvolvimento" e "progresso" como sinônimos de obras, construções, vidros, prédios, estradas, para a preservação da vida.
Sinto uma agonia profunda ao pensar em como acumulamos troços e coisas e objetos e precisamos de mais espaços e objetos novos e coisas e trecos. Às vezes penso nos vizinhos da minha mãe que trocaram todo o piso do apartamento, não por necessidade estrutural, mas porque queriam exibir um porcelanato reluzente para seus parentes e amigos. Além de todo o incômodo de barulho de obra por mais de seis meses e potencial dano à estrutura do prédio, todo o lixo gerado pelos quilos de metralha descartados deus sabe onde. Imagino tudo isso se repetindo em vários outros prédios ao mesmo tempo e por anos e anos. O acúmulo de horrores.
Tudo isso está entranhado em nossa cultura, em nosso sistema econômico que governa nossas vidas e está tão enraizado em nossas mentes que é, para mim, quase impossível pensar em alternativas. Um influencer não vai deixar de receber suas publis para postar vídeos plantando árvores. Não vejo nenhum brasileiro deixando de usar sacola de plástico no mercado e incentivando as pessoas a fazer o mesmo - inclusive, olham você como doido quando você chega com sua sacola no supermercado até hoje. As multas do ibama são aplicadas, mas as consequências do crime ambiental não são revertidas - por que os criminosos não são obrigados a reparar o danos? (estou falando como leiga, talvez eles sejam, não sei).
Minhas questões, enfim, são as seguintes:
- ainda é possível evitar a queda?
- o que podemos fazer para isso?
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