Chuva

 

Chove intensamente há três dias aqui na cidade. No primeiro dia de chuva, voltei para casa sozinha dirigindo e o waze me mandou por um caminho desconhecido para desviar do trânsito e dos alagamentos. Passei por um túnel com água quase na porta, acelerando sem mudar de marcha enquanto minhas pernas tremiam involuntariamente. Essa situação só não foi pior porque eu estava com o telefone no viva-voz com meu consagrado que tentava me acalmar me pedindo para descrever as coisas ao redor. É bom focar no momento presente para silenciar as paranóias que vão surgindo na mente nos momentos de desespero. Cheguei em casa debaixo de chuva torrencial e em segurança. 

Há anos vemos essas tempestades destruindo tudo e até matando pessoas e até hoje não temos um protocolo, uma lei ou algo do tipo para obrigar locais de trabalho "não essenciais" a mandar as pessoas para casa assim que o órgão responsável emitir um alerta de perigo meteorológico. É cada um por si. Já temos tecnologia suficiente para fazer diversos trabalhos em casa. O problema, me parece, não é apenas de produtividade e sim de descaso com o outro. A vida é irrelevante, o poder é tudo. Poder sobre a vida do outro, "estou pagando, você vai ficar aqui até que eu diga a hora de sair".

Mas hoje eu não quero escrever e ficar deprimida. Vou aproveitar meu privilégio e estudar ouvindo o barulho da chuva. Fazer mais um café e contar quantos pingos caem numa folha da minha árvore. Procurar o sapo que está coaxando em algum lugar aqui perto. Aproveitar o frio e deitar com meus cachorros em cima de mim no sofá. Ler mais um capítulo de um livro para decidir se vou abandoná-lo ou não. Só espero que não falte energia, mas, se faltar, pelo menos estarei em casa em segurança.

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