Nunca talvez


Nos últimos meses tenho me sentido hiperestimulada, cansada e excitada. Não faço ideia dos culpados e os suspeitos são muitos: hormônios, nova idade, estudos, leituras, pessoas, telas, psicanálise, loucuras da minha cabeça, sonhos, desejos, enfim. O final do ano também me desperta um romantismo estranho, uma mistura de filme brega de natal (daqueles com pessoas se encontrando num aeroporto) e gente numa casa de swing fazendo todo tipo de atrocidade sexual. Eu consigo imaginar cenas e cenas na minha mente, como se fossem sonhos, histórias sem continuidade, pessoas sem rosto, eu sou a narradora e, ao mesmo tempo, na história sou um eu-fictício, uma história que talvez nunca será contada.

Vejo um homem e uma mulher se aproximando, sorrindo um para o outro. Nós estamos num parque com um extenso gramado e diversas árvores providenciando a sombra e o vento necessários para aquele dia de sol. Há prédios ao longe indicando ser ali um campus universitário ou um centro cultural. É a primeira vez que ela o vê sorrindo e tinha certeza de que aquele sorriso estava escondido, esperando por ela. Ele não tinha noção de que ela seria tão bonita ao vivo, parecia etérea com aquele vestido florido voando delicadamente com a brisa do quase-verão. Eu não sabia, mas eles estavam se vendo pela primeira vez. De longe, porém, parecia que já se conheciam há muito tempo. Se abraçaram. Não quis ser invasiva e não escutei a conversa. Era uma cena muito agradável de se ver, como se houvesse muita e pouca intimidade ao mesmo tempo.

Sentaram no gramado, um de frente para o outro. Não pareciam ter planejado nada, pois não havia cesta de pique-nique ou algo do tipo. Só a conversa bastava. Em algum momento ele tirou um caderninho do bolso da calça jeans (deu para ver um cinto preto e um pouco da sua barriga quando ele fez o movimento) e mostrou algumas anotações a ela. Mesmo sem conseguir ouvir uma palavra do que estavam dizendo, eu vi a surpresa na expressão dela. Parecia curiosa sobre o conteúdo do caderno e resolveu se aconchegar de costas para ele que abriu as pernas e a envolveu em seus braços para que, juntos, pudessem ler e conversar e sorrir e ler e comentar e olhar um para o outro e dar altas risadas como se o mundo ao redor não existisse, como se eu não existisse.

Eu fiquei presa naquela cena, presa naquele homem, presa naquela mulher que eu não conhecia, mas que também estavam dentro de mim. Senti uma feliz tristeza, um sentimento que não existe ou que talvez eu apenas não saiba explicar porque aquelas memórias não eram minhas, nunca seriam talvez.

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(a foto do post é apenas isca porque percebi que meus posts ~engajam~ mais quando eu mostro meu rostinho no início, ou seja, não tem nada a ver com os escritos, ou tem? risos)

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2 Comentários

  1. Ah… essa cena que você presenciou, esse sentimento eu conheço bem. Consegui me ver no lugar do rapaz. Assim como também me identifiquei com os devaneios e o sonhar acordado. Muitas vezes pode trazer um sentimento bom também :) Mas as vezes também desperta uma certa melancolia né?
    Da foto, beleza sempre gera engajamento hehe ;)
    Bom ver você escrevendo aqui de novo!

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  2. Que saudade dos seus posts por aqui!
    Também tenho me sentido cansada e hiperestimulada, mas talvez de um jeito diferente do seu? Não sei kk, mas espero que a gente consiga desacelerar um pouquinho
    Beijo ♥

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