Um dia vesti um maiô novo para ir à praia e estava me sentindo muito bonita. Resolvi buscar o elogio alheio, fiz poses, perguntei, mas não consegui nada além de um "bonitinha" e de uma clara alusão negativa ao fato de estar "me achando". Felizmente uma mulher me socorreu, dizendo "você não pode dizer nada menos do que maravilhosa e que tem sorte de estar com ela". E isso é só uma micro coisinha perto de todos os horrores pelos quais as mulheres passam todos os dias.

Quando vi essa frase (da imagem do post) nos stories de alguém numa rede social, me lembrei logo do teste de Bechdel. É um teste bem simples para saber se um filme representa adequadamente as mulheres, com todas as suas complexidades e extraordinariedades (essa palavra deveria existir). Basta observar se o filme segue três critérios: 1. tem mais de duas personagens mulheres; 2. elas conversam entre si; 3. sobre coisas que não sejam homens. Depois que aprendi sobre esse teste, nunca mais vi filmes da mesma maneira. Sinto que perco meu tempo quando vejo um filme que não passa no teste, meu eu feminista fica triste.

Eu conheço muitas mulheres maravilhosas, com personalidades complexas, lindas, fortes, inteligentes demais. Minhas avós, minha mãe, minhas amigas, várias alunas e até minha cachorra, dão um banho em muitos homens simplórios, parados no tempo, que não pegam um livro pra ler que não tenha sido escrito por um outro homem, que não vêem um filme que não seja de homens matando homens, cuja autoestima é infinita, cujo corpo não vê uma academia nem um prato de salada há tempos. Essas mulheres merecem muito mais.

Essas mulheres, inclusive, deveriam expor esses homens, denunciar essa falta de esforço, reclamar, reconhecer que merecem mais. Elas devem fofocar entre si sobre esses homens, repudiar comportamentos machistas e aceitar nada menos do que o máximo. Devem dar o ghosting neles primeiro. Devem expor o gaslighting. Só devem se mostrar por inteiro se eles o fizerem primeiro (não farão e fugirão quando a gente se mostrar). Devem perguntar por que eles nunca leram o livro de uma mulher, por que eles acham essa música de mulherzinha, por que o joguinho que ela joga é bobo e o que ele joga não é. Expliquem-se, fiquem constrangidos. Mudem, melhorem.



3 Comentários

  1. fico feliz de pensar que estou numa bolha em que há muitos homens que rompem esse padrão, mas infelizmente é só uma bolha mesmo. uma bolha na qual eu me isolo, porque não tenho a menor paciência com quem está fora dela, infelizmente. espero que um dia as coisas mudem, mas não sei se eu consigo contribuir com essa luta diretamente.

    beijinhos
    camundonguinha

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  2. Vocês mulheres merecem todo amor e carinho do mundo. Devem ser mais valorizadas, sim.

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!

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    Até mais, Emerson Garcia

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  3. Eu sempre falo que constrangimento não se engole, se devolve. Seu texto me lembrou a tag que anda rolando tanto na gringa quanto no Threads, a do #machismoreverso. As mulheres contando tudo o que passaram e os machos todos se doendo (sim, macho; porque homem tem maturidade pra refletir ao invés de reclamar).

    É sempre bom quando a gente está cercada de mulheres que nos inspiram. Ter uma rede de apoio forte é fundamental.

    Amei a reflexão <3

    Um beijo,
    Fernanda Rodrigues | contato@algumasobservacoes.com
    Algumas Observações
    Projeto Escrita Criativa


    PS: Falando do comentário que você me deixou, sinto muito por você ter perdido a sua vó. Todo o meu amor pra você neste momento tão difícil. <3

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